O Gravador da Morte - Sara Bonvalle
Sessão de Apresentação
O Gravador da Morte - Sara Bonvalle
25 de Julho’09 17h30
Era Uma Vez No Porto...
«Tentei desabafar contigo aquele meu aperto, mas estavas demasiado ocupado para me prestar atenção. Acordei e ousei querer agarrar a vida de uma outra forma, sem estar dependente de ti e foi aí que me encaraste como louca por não perceberes o motivo que me levou a suspirar tão fundo. Queria viver muito, mas principalmente e acima de tudo desejei morrer. Quis partir para que notasses a diferença entre o antes e o depois de eu já não estar viva. Não me faltou o ar, faço questão de que saibas que fui eu, de livre vontade, que decidi e premeditei cortar os meus próprios laços mendigos da respiração. Preferi morrer a viver transparente sob os teus olhos, porque tu não sabias o que era o amor e agora também é tarde demais para o saberes.»
In «O Gravador da Morte»
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"Recém-chegado e ignorando completamente as línguas do Levante, Marco Polo não podia exprimir-se de outro modo que não fosse com gestos, saltos, gritos de espanto e de horror, latidos ou berros de animais, ou com objetos que ia extraindo dos alforges: penas de avestruz, zarabatanas, quartzos, e dispondo à sua frente como peças de xadrez. De retorno das missões a que o enviava Kublai, o engenhoso estrangeiro improvisava pantominas que o soberano tinha de interpretar: uma cidade era designada pelo salto de um peixe que escapava ao bico do albatroz para cair numa rede, outra cidade por um homem nu que atravessa o fogo sem se queimar, uma terceira por uma caveira que apertava entre os dentes verdes de bolor uma pérola cândida e redonda..." [Calvino, Italo, in As Cidades Invisíveis, 1965] Lugar num Passeio, que se diz[ia] Alegre... por entre o rio d'Ouro e o mar Atlântico, acolhido em setembro de 2005 pela Cidade do Porto: o *Era uma vez no Porto...* não foi contado, nem escrito por Marco Polo, nem traduzido por Kublai, mas podemos [bem] imaginar os símbolos que estes usariam para o descrever... Lugar de mil músicas, mil conversas, reflexões, mil revoluções, amizades, muitos mais amores, mil artes...
Ao nível do mar subiam-se uns degraus; uma sala familiarmente musical recebia os seus viajantes em ambiente aquecido, pronta a servir alguns apetites...
Durante 3 anos acolheu sonhos, em forma de tatuagens, bicicletas, brincos, batons, candeeiros, carpetes, vinis, livros, bonecas, tesouras de cabeleireiro, pinturas, vinho, fotografias, ilustrações, entre muitas outras, que se foram revelando, crescendo, multiplicando, e, também [não fosse este um lugar real], enfraquecendo e morrendo até.
Um certo dia, inevitavelmente, a declaração "a brisa do mar levou-me ao Centro de ti..." transportou o *Era uma vez no Porto...* para o lado mais urbano do coração da Cidade, em busca e em apoio de uma revitalização da Baixa que se anunciava. Ali se instalou, sob um olhar atento de uma Torre de Controlo - a bela e amada Torre dos Clérigos. "Grande responsabilidade", dizia quem espreitava da varanda e sentia, de imediato, o calor daquela que acolhia e recebia uma nova vida no seu tempo, mas também a atitude daquela que também vigia e supervisiona quem tem uma missão importante a cumprir....
Enquanto os ponteiros rodam... as histórias vão continuando a acontecer, as pessoas vão dançando, saltando, gritando, gesticulando, simplesmente comunicando.
Fica a memória, e os sinais que ela preservou, fazendo de todos nós um Marco Polo em modo de tradução.